Saturday, December 22, 2007

Reflexões sobre pintura

De agora em diante, sempre que for solicitado a afirmar minha “profissão”, responderei que sou PINTOR.
Nem Artista Plástico, nem (de acordo com a terminologia atual) Artista Visual. Acho irônico que, em meio ao “pós-pós-pós(...)-modernismo”, onde tudo é estetizado e/ou estetizável, onde os pensadores apontam a morte da Arte(vide Baudrillard), surjam tantos “artistas”. É só ligar o aparelho de televisão e comprovar.
Mas, que interesse para o “público” pode haver em deter-se a olhar pinturas quando, a sua volta, um infinito número de imagens mais vibrantes e atrativas se faz presente de forma muito mais dinâmica? Que validade a linguagem da pintura pode ter nesse cenário?
Confuso entre caminhos, tão barroco como pós-moderno, sem reconhecer sentido tanto para a pintura como para toda Arte, flertei com a possibilidade de abandonar os pincéis e as tintas. Tal alternativa não foi de todo descartada, mas talvez não seja executada de forma tão drástica. Abandonar a pintura? Decerto não conseguiria – ela faz parte de mim. Mas temo que tenha de abandonar a pretensão de querer fazer dela uma forma de subsistência.
A pintura não é hoje como foi para os modernistas, instrumento belicoso em prol da contestação ao conservadorismo, da criação de um novo mundo. Talvez a pintura, agora, seja refúgio para pintores e apreciadores da pintura. Lugar onde o tempo, novamente, possa ser tempo de magia; onde o olhar estabeleça relações significativas. Atitude de desaceleração, de concentração, de entrega, de um conhecimento diferenciado, mais irracional e, portanto, mais profundo, pois sua apreensão é direta.
Pintar é atitude pontual de resistência. É estar consciente do momento histórico, do fluxo que nos carrega e poder, com sua prática, manter certa autonomia. Pintar é, dentro do imenso aparelho de relações de produção e consumo de signos que é a atualidade, atividade onde o indivíduo pode se supor livre. Atualmente, tanto na Arte quanto na vida, “liberdade é jogar contra o aparelho. E isto é possível.” (Vilém Flusser).

Bala Perdida 1

serigrafia sobre lona plástica - 2007

Bala Perdida 2

serigrafia sobre lona plástica - 2007

Bala Perdida 3

serigrafia sobre lona plástica - 2007

16 comments:

Erica said...

Poxa, Zé! essa série de serigrafias está viceral!!

adorei!

bjssss

Ruela said...

Olá tudo bem
Só posso concordar com tudo o que está escrito...concordo plenamente.
Gosto muito das suas imagens e pinturas.
Actualmente estou mais na área digital do que pintura...mas não consigo também esquecer a pintura e escultura.
Acho que o único caminho a percorrer é tentar juntar tudo...para umas darem visibilidade a outras.
Um abraço e continua a fazer boa arte, como até aqui tens feito...um dia o reconhecimento virá.

anjobaldio said...

Valeu Zé Rotieh (de Rocha). Trabalho maravilhoso. E não esqueças de mandar mais trilhas sonoras para os vídeos. Grande abraço.

Luciano Fraga said...

Grande Zé,suas reflexões estão lá no blog versoseperverversos,grande abraço.

Anonymous said...

muito bacana seus trabalhos, vim pelo blog do Nelson Magalhaes.....parabens, sao impressionantes

anjobaldio said...

Zé, tem mais uma trilha tua dukaralho no vídeo TATURANAS lá no meu blog. Dá uma olhada. Grande abraço.

Anonymous said...

vc não é doido.
vc não é besta.
vc não é metido.
vc é antes um artista e portanto sabe porque tem que tomar essas posições e assim afirmar primeiro o carater babaca que muitos tem em se considerar especial e vc é especial, por isso não precisa se considerar eu e aqueles que por sorte olha, mira teus trabalhos é que tem que dizer :
zé de rocha tuas pinturas cantam e tuas musica me enchem de cores.
zé rocha vc é um artista.
nem grande nem pequeno:
artista.

Gilson said...

Entendo esta reflexão. E por demasiadas vezes sinto-a na pele também.

Rounds said...

tudo bem? curti seu blog. conheça o meu: http://buenasrocks.blogspot.com
abs

Anonymous said...

gravuras de horror e nem por isso belas não sejam

Ruela said...

Boas Zé de Rocha,
convido-o a participar neste blogue: http://novaaguia.blogspot.com/

é só
enviar um mail para: adesao@movimentolusofono.org
Indicar: nome, e-mail e área de residência.
Em seguida recebe o convite e pode começar a publicar suas obras.

Abraço.

Klatuu o embuçado said...

Belo texto - mas enferma de uma objecção clássica: a da intemporalidade da arte. Nada tenho contra uma arte comprometida com o real e a denúncia de males sociais, nem contra o combate; mas se a arte apenas toma como sua temática isso... se empequena.

Abraço.

Klatuu o embuçado said...

P. S. E parabéns pelo acordeão que acompanha o Nelson.

Klatuu o embuçado said...

... E aceita o convite.

Anonymous said...

gosto muito dessa série "bala perdida". parabéns, zé!

Anonymous said...

Parabéns pelo trabalho!!
Somos de Floripa, estamos criando uma banda de hardrock com o nome Os Bala Perdida e usámos Bala Perdida 3 como foto de capa do nosso myspace.
Caso não deseje que utilizemos sua reprodução, nos avise, que retiramos.
Se não se importar,
muito obrigado.
Uma vez mais parabéns, seja qual for a sua resposta.
EMAIL: osbalaperdida@gmail.com