Saturday, December 22, 2007

Zé de Rocha X Zé da Rocha

Que os céus me ajudem, mas a questão é que não consultei nenhum numerologista e agora sofro com o permanente equívoco relacionado ao nome que escolhi como alcunha artística.
De forma verbal ou impressa, estão promovendo um sujeito chamado Zé dA Rocha, em detrimento ao pobre escriba que vos apela: Zé dE Rocha.
Venho aqui elucidar quão enorme é a distância entre um e outro.
Corrijam-me os gramáticos, mas acho que o artigo “a” adicionado à preposição que une o nome Zé ao sobrenome Rocha implica uma relação de proveniência, de lugar. Zé da Rocha, pois, é o indivíduo que vem da rocha, que é natural da rocha ou que mora na rocha. Definitivamente, não moro numa caverna e, mesmo sendo antiquado, não sou troglodita.
O mesmo artigo aponta uma relação de posse. Zé da Rocha, então, é o Zé que pertence à Rocha por parentesco ou outra relação de poder.
Diferentemente, a preposição “de” usada sem a adição do artigo definido demonstra o material, a substância formadora do objeto. Copo de vidro, jarro de barro. Zé de Rocha é feito de rocha. É o indivíduo firme, plantado no chão, resistente, perseverante.
Claro que a imagem da rocha é uma metáfora e acredito que qualquer psicólogo pode ver que a uso como marketing pessoal, visto que as qualidades que ela aponta servem, na sua maioria, para encobrir meus defeitos: teimosia, pessimismo, cabeça-dura.
Por fim, meu protesto ao preconceito. Sou José, é inequívoco, não nego. Mas prefiro o carinhoso e sonoro (diga-se de passagem) apelido que, desde a mais tenra idade, sou acostumado a ouvir: ZÉ! Pois outro erro freqüente é estamparem nos impressos o nome artístico de José da Rocha. Imagino que esse fato deva-se a um certo ranço elitista. Por que um artista não pode ser chamado de Zé? Será que o Chico Anísio teve esse problema? E o Jô Soares, que é um Zé disfarçado? Tanto se fala da valorização das raízes culturais nacionais e não posso ser simplesmente Zé.

Permutável 1

fotografia digital - 2007

Permutável 2

fotografia digital - 2007

Permutável 3

fotografia digital - 2007

Permutável 4

fotografia digital - 2007

4 comments:

Luciano Fraga said...

Caro Zé,tanto faz "Zé de baixo,Zé de riba,vixe quanto Zé".Concordo plenamente com você que optou pelo caminho da simplicidade, ser você.Por isso sou teu fã cara.Grande abraço.

Anonymous said...

Caramba gostei muito deste trabalho qdo o vi no circuíto de arte, fiquei pensando no nome do artista" Zé de Rocha ".Que nome simplista e forte, sem floreamento.De repente um dia conheço o cara e nem imagino que o trabalho dele é tão bom. Por que ficou tanto tempo longe da arte?Não há como escapar dela,vc já foi engolido.Sucesso e por favor não seja um pessimista em relação a sobreviver dela.Um Abraço !

Anonymous said...

e além de tudo é tambem um escritor que me faz pensar.

Edgard Oliva said...

Zé,

se posso tirar a "Rocha" fica só o Zé, mas perde-se o "de Rocha" que dá personalidade a teu nome.

Então, Caro Zé de Rocha quero agradecer-lhe a visita ao meu blog e dizer-lhe que se não o tivesse conhecido como aluno, e que aluno exemplar de belos textos e trabalhos, te conheceria pelas galerias da vida, das artes e nos métiers dos artistas que circulam seus 'fantasmas' pela cidade. Seus textos são sim reflexivos e espero que os publique em futuras mostras expositivas. É preciso falar, não só com as formas, com as cores, com a fotografia mas também com as letras já que vc detém esse dom, também. E sobre a pintura, vc me fez remeter ao passado quando eu ainda usava da pintura para me expressar. Certa vez li o que Paul Klee disse: "A cor apoderou-se de mim:não tenho mais necessidade de persegui-la. Sei que ela me tomoou para sempre. Tal é o significado deste momento. A cor e eu somos um só. Sou Pintor." Pois é, ser PINTOR, ser ESCULTOR, ser FOTÓGRAFO, ser MÚSICO, nada importa se não formos nós mesmos e não nos identificarmos com o mundo real, o mundo terreno. Então, percebi desde quando conheci a ti e teus trabalhos que vc vive o mundo real, o mundo dos homens que encaram a vida de frente, e não o mundo irreal e cheio de artificialidades. Isto está em seu trabalho, percebe-se e incluo aqui os trabalhos de teor erótico, assunto que boa parte da humanidade o vê como tabu, como uma barreira às liberdades de expressão, da carne como ela é, e dos desejos que a produz. Pois então que vá em frente e não tardarás a mostrar teu trabalho nos melhores lugares deste mundo. Ah! e não se esqueça de doar-nos algo escrito também!

Grande abraço e obrigado pela opinião sobre o meu profile.

Edgard